terça-feira, 21 de outubro de 2014

NOTA DO QUILOMBO RAÇA E CLASSE

EM DEFESA DO MARXISMO, DO MOVIMENTO NEGRO DE RAÇA E CLASSE E DOS MILITANTES


       Colaboramos e Participamos do 1ª Seminário Fela Kuti da UERJ por acreditarmos que os debates realizados pelo mesmo teriam importante cunho educativo, cultural, de formação política e que no campo democrático proporcionariam discussões de ideias de diferentes concepções. Apresentava como parte dos objetivos: “[...] diminuir a lacuna evidente na formação não só de professores e professoras de outras instituições. Mais o mais importante: a esperança de poder discutir coletivamente com os movimentos sociais, poetas, escritores, ativistas, militantes e somarmos todos e todas para pôr fim ao racismo no nosso país.”
Ao sermos convidados para a Conferência do dia 14/10/2014 com o tema: “Marxismo, Pan-africanismo, Racismo e movimentos sociais”, que contava com a presença do Cubano Historiador e Escritor - Carlos Moore, o Professor da UFRJ e Dirigente do PCB - Mauro Iasi, o Engenheiro da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência - Maurício Campos, fomos avisados que o Professor da UFMA, Vice-Presidente da APRUMA Seção Sindical e Coordenador do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe - Rosenverck Estrela Santos (Verck) coordenaria a mesa com um tempo de 10 minutos para problematizar e expor suas ideias, ou seja, interagindo com todas as falas. 
Surpreendemo-nos com as orientações da coordenação do evento, minutos antes do início da mesa, que o mesmo não poderia se pronunciar – Rompendo o combinado com a coordenação do movimento nas reuniões de organização que participamos. Diante disto o mesmo pediu então para não ficar mais a mesa, o que não foi aceito pela organização do evento, que insistiu que o mesmo continuasse. Avaliamos que esta mudança inesperada na metodologia da mesa possa ter relação com a reação do público à intervenção realizada pelo companheiro do Quilombo Raça e Classe/MA, o Professor Hertz Dias, na noite anterior (13/09/14) na mesa A África que Incomodou Fela Kuti e Continua Incomodando, com o Historiador e Escritor - Carlos Moore e o Professor da UFRRJ - Amauri Mendes Pereira, na qual o companheiro foi ovacionado pelo público, que pedia para o Amauri concluir, parar de falar, para que o Hertz falasse. Diga-se de passagem, nesta mesa o Moore foi absolutamente respeitoso com as diferentes posições, apresentadas.

Iniciou-se a noite de Conferência de Marxismo, Pan-africanismo, Racismo e Movimentos Sociais no dia 14, com a exposição dos convidados. Ao abrir para as perguntas ao Plenário a organização mostrou-se confusa na metodologia, optando finalmente por bloco de perguntas por escrito, ao iniciarem-se as respostas ao primeiro bloco o Historiador e Escritor Carlos Moore foi absolutamente desrespeitoso e desafiador em relação aos membros da mesa e da platéia que não concordavam com sua fala, reduzindo o debate político a todo tipo de ataque – aos gritos – ao Marxismo e aos marxistas, além de expressar uma defesa acalorada do governo imperialista de Obama (Presidente dos EUA que invadiu o Haiti e tem cometido todos os tipos de crime contra a população negra daquele país) dizendo que “preferia ver a América Latina governada por vários Obamas do que dominada por marxistas racistas”. Além de afirmar “não haver nenhum negro dirigente em partidos e organizações de esquerda no Brasil”, e que não teriam negros e nem marxistas para debater com ele. 

Foi a partir daí que o Professor da UFRJ e do PCB - Mauro Iasi, não se conteve e disse ao mesmo que ele precisava estudar a história do Brasil, seus Partidos e Organizações iniciando neste momento uma insatisfação em alguns presentes na platéia, natural dos que comungavam com as ideias disseminadas por Moore, além da insatisfação por ter na mesa deste debate a presença de dois debatedores não negros (Iasi e Campos). Mas tal reação foi desproposital tendo em vista não ser um debate exclusivo da questão racial, pois se tratava também da abordagem do Marxismo e do Movimento Social, que era o centro de militância dos mesmos. 

Frente à insistência de um grupo da platéia – que gritava e vaiava - em não admitir outras posições que não a de Carlos Moore e desrespeitar a condução e a continuidade do debate, o coordenador da mesa Verck expressou sua profunda indignação, igual a de todas e todos os camaradas do Quilombo Raça e Classe - marxistas que somos – não calando diante os ataques desrespeitosos de Moore e alguns integrantes da plenária para denunciar as milhares de mortes no mundo causadas pelo pais imperialista de Obama aos povos oprimidos e explorados no mundo capitalista!

Diante disto, alguns participantes do Seminário e a organização do evento foram em direção à mesa onde houve uma arbitrária e desrespeitosa intervenção sobre o companheiro Verck, onde foi agredido verbalmente não somente por expressar sua posição, mas por expressar uma posição que se contrapunha a colocada por Moore. Foi então que nos retiramos do auditório por conta de três razões básicas: Primeiro, para impedir um desastre – que os agressores irresponsavelmente não se preocuparam – pois havia crianças e idosos no auditório e uma confusão generalizada poderia causar danos irreparáveis; Segundo, por não concordarmos mais em estar ao lado de uma pessoa que não tem respeito por ninguém a não ser suas próprias idéias e Terceiro para garantir a nossa segurança. 

Porém, aproveitando-se do tumulto criado no entorno da mesa uma mulher “infelizmente” dirige-se ao Professor Mauro Iasi, ainda sentado à mesa ao lado de Carlos Moore, e o questiona sobre o fato dele ter dito ao Moore que deveria estudar, acusando-o de racista e o mandando “tomar no c...”. Mauro Iasi ao ser atacado se autodefende respondendo da mesma forma a agressora. Já de forma exacerbada, multiplicaram-se e gereralizaram-se as acusações de racista a Mauro Iasi, findando qualquer possibilidade de se continuar o evento. Apesar de Iasi ter se defendido e ou respondido a uma colocação mais exacerbada de um grupo de “mulheres pretas”, queremos registrar que não reivindicamos a reação agressiva do mesmo, mas também não concordamos com as posições intimidadoras e racialistas por parte das mulheres pretas em questão!

Não devemos cristalizar uma divisão no Movimento Negro no momento em que o Estado brasileiro e os patrões implementam uma política de “segurança pública” de tolerância zero, como as UPPs e a ocupação militar na Maré e no Haiti. Onde nossa juventude negra vem sendo morta todos os dias, nossas mulheres negras vem sendo estupradas, caracterizando um processo de genocídio do povo negro. Há um recrudescimento do racismo e do reacionarismo no Brasil e no mundo que tem que ser refletido das mais diversas formas na sociedade, inclusive, com o processo de criminalização dos militantes sociais, marxistas, trabalhadores de todas as raças e dos movimentos sociais e suas lutas, que desde Junho de 2013, tem sofrido centenas de prisões e processos.

Entretanto, do jeito que for necessário – como dizia Malcolm X – e mesmo que isto nos cause o embate, com tamanha tristeza de ver irmãos e irmãs, iludidos numa ideia pós-modernista, racialista e separatista, ainda assim, exerceremos a luta e a prática da concepção de raça e classe, socialista na defesa da união da classe trabalhadora, esta composta por negros e não negros, na luta contra o sistema opressor e explorador do capital, este sim nosso real inimigo!

Repudiamos as atitudes violentas e racialistas/pequena burguesa ocorridas na UERJ, distante da moral revolucionária da classe trabalhadora negra, e que não fazem parte de nossa história negra de luta!

“Não Há Capitalismo Sem Racismo” 
Malcon X

Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe
Rio de Janeiro, 19 de Outubro de 2014

2 comentários:

  1. Um episódio ridículo, desprezível e chulo. No dia anterior buscaram com seu militontismo, impedir que outro convidado falasse e não expuseram suas idéias sobre o assunto. E grotesco em todos os sentidos. Moore parece desconhecer história e por isso, optou pela apelação e pose em fotos com a plateia ignara. Lamentável, vergonhoso e ofensiva a todos aqueles que lutam por justiça nessa terra.

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  2. Eu não estava lá. Mas se Carlos Moore está errado, então mostre-nos os negros dirigentes do governos cubano, os negros dirigentes do PCB!!! Se existirem, são minoria? Ou sua participação nestas organizações é compatível com seu contingente?
    Se Moore exaltou-se ou não, é detalhe desimportante perto das denúnicias feitas por ele de que o marxismo não serve como ferramenta para pensar a questão racial.

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